É a vontade de Deus a construção de Templos?

 

“Os homens encarregados do trabalho eram diligentes, o que garantiu o progresso da obra de reforma. Eles reconstruíram o templo de Deus de acordo com o modelo original e o reforçaram” (2 Crônicas 24.13 NVI).

 

Será que a “igreja” que Jesus estabeleceu se assemelha ao “cristianismo” existente hoje? O mundo religioso parece estar mais preocupado com o crescimento físico, financeiro e material do que o espiritual. São poucos decidindo por muitos, que a “igreja” precisa mostrar-se “grande” para o mundo. Será que é assim que a igreja cristã, a igreja estabelecida por Cristo deve ser conhecida? Será que foi desta forma que Jesus a idealizou?

 

Em primeiro lugar, as “igrejas” demonstram estar mais preocupadas em construir “templos” grandiosos e belos para adoração ao Senhor do que conhecer realmente a vontade dEle. Será que é a vontade de Deus que a igreja construa edifícios físicos para adorá-lo?

 

Quando começou essa “onda” de edificações físicas? Ela começou quando o estado se “uniu” a igreja. Foi quando os imperadores romanos cessaram sua perseguição ao grupo de fiéis seguidores de Jesus, e promoveram essa desastrosa “união”. Que sociedade pode haver entre a luz e as trevas? “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2 Coríntios 6:14-16).

 

Pela história sabemos onde começou a construção de templos para “adoração” ao Senhor. No ano de 370 d.C. foi construído o primeiro templo como um local onde os “cristãos” fariam suas reuniões de adoração. Isso aconteceu após a morte do imperador romano Constantino – o mesmo que “uniu” o estado com a “igreja”. Aqueles que não concordaram com esta “união” foram perseguidos e mortos. Aí começou os desvios da doutrina estabelecida por Jesus e seus apóstolos – a grande apostasia mencionada por Paulo em 2 Tessalonicenses 2:3. Pela vontade humana e pior, de pagãos, começaram a construir a ruína da igreja e hoje vemos em que aquele grupo se tornou: o desvio total da vontade de Deus. O remanescente ficou fiel e foi perseguido, e até hoje aqueles que seguem Jesus fielmente são um pequeno grupo, porque são poucos que acertam com este caminho: “porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mateus 7:14).

 

Não foi, portanto, a vontade de Deus a construção de templos físicos para adorá-lo, mas, vontade humana, e pior, vontade pagã. Jesus nos ensinou que “vem à hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (João 4:23). O edifício – templo – não será construído por mãos humanas, mas divinas. “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Coríntios 5:1). Os cristãos – fiéis seguidores de Cristo – são o templo de adoração ao Senhor; eles são o edifício santo. “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (Efésios 2:19-22).

 

Não encontrei em nenhum lugar do Novo Testamento – que é a nova aliança -, Jesus pedindo à igreja que construísse templos para adorá-lo, pois o templo – seu corpo – seria os seus próprios seguidores. Os primeiros cristãos entenderam isso e se reuniam de casa em casa (Atos 5:42); onde formavam pequenos grupos que se multiplicavam como o ensino do Senhor em relação ao grão de mostarda (Mateus 13:31,32). Também reuniam no templo, como diz a passagem de Atos 5:42, mas porque ele ainda não havia sido destruído. O templo foi definitivamente destruído em 70 d.C.; aliás, os apóstolos, usavam o templo e as sinagogas – locais tipicamente judaicos – para pregar as boas novas do evangelho. A “igreja” hoje, está preocupada em torna-se grande conforme os padrões de grandeza dos homens.

 

Em segundo lugar a Bíblia não diz que a igreja seria conhecida por estar “funcionando” em lugar fixo em belos e grandiosos templos, mas pelo amor de uns pelos outros. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:35). O templo físico foi destruído para dar lugar a um templo espiritual onde haveria amor que transbordaria e chegaria até as pessoas deste mundo, fazendo-as conhecer o Senhor Jesus. Só por meio do amor é que o mundo conhecerá a igreja gloriosa de Deus, o edifício espiritual.

 

A Bíblia afirma que os cristãos são a família de Deus. Como então, podemos conhecer a fundo aqueles que estão ao nosso lado num grande templo? Como dizia Mario Quintana: “o excesso de gente impede de ver as pessoas. Como é possível ter comunhão com tanta gente ao mesmo tempo? Em grupos menores, de casa em casa, a comunhão é profunda e verdadeira. Temos a oportunidade de conhecer intimamente as necessidades de cada um. Temos a verdadeira essência de família, reunindo numa casa, onde todos podem contemplar a face uns dos outros e compartilhar suas experiências e alegrias, suas dificuldades e necessidades.

 

Quantas despesas e burocracias civis um templo físico pode impor a igreja? Contas como água, luz, telefone, além de manutenção, funcionários, estatutos, etc. Onde a Bíblia autoriza o custeio destas coisas com a oferta dominical (1 Coríntios 16:1-3)? Não encontro outras razões para usar essas dádivas recolhidas como adoração aos domingos, que não seja nas necessidades dos santos, na divulgação do evangelho e no sustento de obreiros (1 Coríntios 16:1,2; 2 Coríntios 9:12; Filipenses 4:15-19; 1 Coríntios 9:14; Filipenses 4:14-17; 1 Timóteo 5:17,18). Não vamos confundir necessidade, que é algo que alguém precisa ou esteja faltando, com aquilo que ela quer. Querer é diferente de necessitar e de precisar.

 

Que estas e tantas outras questões possam ser feitas para reflitirmos qual é o desejo do Senhor para a sua igreja. Vamos sempre lembrar que a igreja não pertence a nós, mas a Deus.

 

Com relação à passagem de 2 Crônicas 24:13, os diligentes serão aqueles que tiverem a coragem de dizer não e voltar para o plano original do Senhor Jesus para a sua igreja. Com grupos pequenos reunindo de casa em casa ou em qualquer lugar (praça, campo, bosque, galpão, etc.), afastaremos muitos motivos que promovem as divisões religiosas, além de não impor tantas cargas financeiras aos verdadeiros discípulos de Cristo. Aquele templo foi reconstruído, mas foi novamente destruído para sempre durante o império romano. Um novo “templo” foi construído em seu lugar: “Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo” (João 2:19-21). O “santuário do seu corpo” é a sua igreja.

 

Que Deus seja louvado e obedecido.