Antes de entrar propriamente dito no tema, precisamos saber o que é pecado, entender seu conceito na Bíblia, e a gravidade das consequências geradas por ele.

Introdução

Pecado (gr. “harmatias”) significa literalmente “errar”, no sentido de errar ou não atingir um alvo. A palavra era utilizada no mundo antigo para descrever um erro cometido. Quando um arqueiro grego errava o alvo, dizia-se que ele havia “pecado”. Como exemplo na atualidade podemos citar: “o advogado pecou ao argumentar sobre a defesa do acusado.”

No nosso caso, pecado é “errar o alvo que Deus tem para nossa vida”. O sábio escreveu em Eclesiastes 12:13: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.” O alvo de Deus é que acertemos sempre, ou seja, que andemos segundo a sua soberana vontade; andar como Cristo andou. Em João 2:6 lemos: “aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”. Em Cristo temos o exemplo perfeito a ser seguido. Quando Paulo falou aos coríntios imitarem ele, é porque ele imitava a Cristo (1 Coríntios 11:1).

Existem três formas básicas de errar o alvo, ou seja, pecar (o alvo é a vontade de Deus):

1) Todos pecaram (Romanos 3:23) – O arqueiro erra o alvo:


2) Transgressão (Gl 3:19; 2 João 9a) – O arqueiro atira fora do alvo (além da vontade de Deus):


3) Iniquidade (Isaías 5’3:6; Tiago 3:6) – O arqueiro ignora completamente o alvo:

Ezequiel 18:20 diz “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este”. Cada pessoa é responsável pelos seus próprios pecados.

A Bíblia trata o pecado como algo que faz separação entre o homem e Deus. O pecador sem arrependimento não pode entrar na presença do Criador, pois ele é santo e não contempla o pecado, mas em Cristo, temos acesso a presença do Pai (Hebreus 10:19-22). Alguns pecados são abomináveis aos olhos de Deus, como semear contenda entre irmãos (Provérbios 6:19b), a idolatria, a depravação e a imoralidade sexual (Romanos 1:18-23). Já outros, o aborrece muito, como a soberba (arrogância), viver da mentira, crueldade e violência, planejar e agir contra a vontade de Deus, buscar e se alegrar com o pecado, e o falso testemunho (Provérbios 6:17-19a). Há uma lista enorme de pecados, e devemos saber quais são de fato, e procurar andar de acordo com a vontade de Deus (Gálatas 5:19-21;etc.).

O pecado gera a morte, e sem Cristo, todos estavam condenados ao destino eterno sem Deus. O apóstolo Paulo disse que “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6:23). Em Cristo há vida, sem Ele só há morte. Em Efésios 2:1,2 lemos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência.”

E onde entra o pecado consciente?

Hebreus 10:26-31 nos dá a diretriz para entendermos este tipo de pecado. O autor escreveu: 26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; 27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. 28 Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. 29 De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? 30 Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. 31 Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.”

Neste trecho, o autor alerta sobre o perigo de pecar voluntariamente – é um aviso importante, e não pode ser ignorado. O pecado consciente consiste em errar alvo tendo ciência do que está fazendo é contra a vontade de Deus.

“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (v. 26) – O pecado consciente, é o pecado deliberado ou proposital; trata-se, na verdade, de rebeldia continua. O interessante, que esta admoestação vem logo após o verso 25, que exorta os irmãos a não deixarem de reunir. O alerta é dado especialmente aos que deixam deliberadamente de se reunir como igreja; abandonam a comunhão com a irmandade e consequentemente, abandonam a Cristo. Este abandono é uma decisão consciente que acaba gerando a apostasia; o desvio total da vontade de Deus, rejeitando conscientemente a Jesus. Não há esperança para aquele que se converteu a Cristo e obteve o conhecimento da verdade, e depois vive pecando conscientemente. O pecado aqui descrito é de modo persistente, resultando no abandono do Deus vivo (3:12). Qual é a consequência dessa atitude? “Já não resta sacrifício pelos pecados.” Quando uma pessoa se afasta de Cristo, não existe outra forma para de ter o perdão. Jesus morreu “uma vez por todas, e este ato não será repetido. Apenas por meio de Cristo e seu sacrifício podemos ser salvos; quando é rejeitado este único meio, a salvação se torna inviável.

“Pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários” (v. 27) – O desvio traz consigo uma expectativa de um juízo trágico, uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso preparado para consumir os inimigos de Deus. O julgamento de Deus é certo e infalível, e aceitando ou não, e concordando ou não, o inferno é a realidade eterna e inevitável para a pessoa descrita no verso 26. É errado alguém pensar que Deus tratará Seus inimigos que estão impregnados de pecados de forma amena, e que conscientemente, infelizmente enfrentará este juízo de fogo (2 Tessalonicenses 1:8).

“Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés.” (v. 28) – Na Antiga Aliança, o pecado consciente era punido, a princípio, sem perdão ao malfeitor. O castigo sob a lei de Moisés era de forma severa (Hebreus 2:2b), mas não podemos ser inocentes em pensar que Deus deixará de castigar o pecado por estarmos agora totalmente sob a graça.

“De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” (v. 29) – Muitos pensam erroneamente que o Deus no Antigo Testamento é severo e o do Novo Testamento é bonzinho. O Deus é o mesmo, apenas mudou a forma de tratar os desobedientes; o castigo na Antiga Aliança era temporal, e na Nova, Deus já predeterminou o dia para o julgamento. O castigo, na Nova Aliança, podemos estar certos, será bem pior. Se o decreto no Antigo Testamento era a morte ao transgressor, o que será daquele que nega e rejeita a Cristo e sua vontade? O que mais é dado, mais se exige (Lucas 12:47, 48). Este tipo de pecado trata com desprezo, desrespeitando totalmente Jesus e seu sacrifício remidor. O cristão que sabe o que está fazendo e ainda menospreza a misericórdia oferecida por Deus através de Cristo comete apostasia.

“Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (v. 30,31) – O desvio da vontade de Deus é um pecado terrível traz imensas implicações geradas por ele; é de estremecer, só de pensar nas consequências. A “vingança” de Deus não é com espírito vingativo, mas com justiça. A justiça dele prevalecerá sobre a injustiça. Deus como justo juiz pode determinar com exatidão qual deve ser o castigo, mas nenhum ser humano. Se só Deus sabe e pode definir a verdadeira justiça, é sábio de nossa parte depender e obedecer as normas estabelecidas por ele. Ninguém pode enganar Deus, por isso é horrível cair em suas mãos sob culpa. Diferentemente do fiel a Jesus, as mãos do Criador se tornam acolhedoras e cheias de bondade; e qualquer pessoa que se renda a Cristo pode desfrutar desta dádiva. É preciso lembrar sempre, que por trás da ameaça de punição aos desobedientes, há sempre a oferta inigualável de misericórdia divina ao que se arrepende e volta ao seu pastoreio.

Conclusão:

O pecado intencional cometido por uma pessoa que conhece a misericórdia de Deus traz consequências terríveis e permanentes. O pecador consciente sabe o alto preço que Cristo pagou por sua alma, todavia trata o sangue do Salvador com desdém. A ira e a vingança de Deus é vindoura para ele.

Contudo, o autor traz um alento para não cairmos neste tipo de pecado: Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos” (v. 32). É necessário permanecer fiel até o fim, apesar da oposição, perseguição e ou tribulação que possa vir. Os cristãos que receberam primeiro esta epístola tinham sofrido no passado; o escritor inspirado encoraja-os a não desistir para que possam receber a promessa. “Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão.” (v. 35).

Solução: acerte o alvo da vontade de Deus!

“Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará; todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.” (Hebreus 10:36-39)

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