Uma reflexão sobre as atitudes do rei de Israel Acabe, o rei de Judá Josafá e do profeta Micaías

Introdução:

Acabe e Josafá, reis de Israel e Judá respectivamente, ouviram dos 400 profetas de Acabe o que iria acontecer a respeito do combate contra os Sírios, na batalha para retomar a cidade de Ramote-Gileade das mãos deles (1 Rs 22:6). Combate este contrário a vontade de Deus. O bom rei Josafá, aceitou o convite de Acabe para pelejar com ele contra os Sírios, arriscando-se em fazer uma aliança com um rei perverso e desobediente a Deus (1 Rs 22:2-4). Mas o rei de Judá não se contentou em apenas ouvir os profetas de Acabe; ele queria ouvir um verdadeiro profeta de Deus (1 Rs 22:5,7). Micaías então foi chamado, contrariando o rei de Israel. O profeta alertou que nesta batalha o Senhor entregaria Acabe nas mãos do rei da Síria; mas ele não lhe deu ouvidos (1 Rs 22:8,9,14-23).

Pensamento:

Estamos dispostos a ouvir o que não queremos? A tendência humana é recusar dar “ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm 4:4). É muito mais fácil ouvir uma “fábula” do que ouvir a verdade. O rei de Israel Acabe, envolto na idolatria e na perversidade, recusava-se ouvir a verdade por meio dos profetas de Deus, dando lugar as palavras que ele queria ouvir de seus próprios profetas.

Recusar a verdade é recusar ouvir a Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus é a verdade e ela é “viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4:12). Porém, Jeremias disse que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (17:9).

Só Deus é capaz de conhecer as profundezas de nossos corações e pensamentos. “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4:13). Deus conhece realmente nossas intenções, portanto, vivamos com sinceridade, reverência e temor diante dEle.

Ao dar ouvidos a verdade, precisamos estar preparados para Deus mudar completamente as nossas vidas, ou seja, deixá-lo retirar tudo aquilo que não deve estar no “templo” de adoração, pois os cristãos são “santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2 Co 6:16b).

Podemos tirar 6 princípios dos acontecimentos com o rei de Israel:

1 – Devemos ser cristãos nobres:

“Disse, porém, Josafá: Não há aqui ainda algum profeta do SENHOR para o consultarmos?” (1 Rs 22:7)

A reação do rei de Judá, Josafá, ao superficial rei de Israel, Acabe, me fez recordar dos bereanos, tão comentados, mas muito pouco imitados nos dias atuais. Lucas registrou o seguinte dos cristãos que habitavam na cidade grega de Beréia situada na região da Macedônia: “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (At 17:11). Biblicamente falando podemos traduzir “nobres” como aqueles se educam e são abertos ao ensino da Palavra de Deus. Estes de Beréia tinham um desejo intenso de receber as Sagradas Escrituras, para estudar e compreender a verdade, e consequentemente, colocá-la em prática. Sejamos, portanto, como os de Beréia que eram nobres, tinham avidez pela palavra de Deus e a examinavam todos os dias para comprovar a veracidade do que lhes era ensinado.

2 – Precisamos ter compromisso com a verdade:

“Respondeu Micaías: Tão certo como vive o Senhor, o que o Senhor me disser, isso falarei” (1 Rs 22:14).

David Roper escreveu em seu estudo sobre o profeta Elias: “Todos nós que pregamos e ensinamos precisamos cravar essas palavras em nossos corações!”

Quão bom seria se todos os pregadores e professores falassem somente o que Deus tem a dizer. Como seria bom ouvir de um pregador ou mestre: “Tão certo como vive o Senhor, o que o Senhor me disser, isso falarei”. O profeta Micaías tinha um compromisso com o SENHOR (IAVÉ); um compromisso com a verdade; a Palavra de Deus; a verdade que aniquila as fábulas, credos, doutrinas e preceitos humanos. Infelizmente, muitos pregadores e mestres estão unicamente preocupados em agradar a “platéia”, com bajulações que longe estão da vontade soberana de Deus. Paulo disse: “A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha” (1 Ts 2:5). O quanto estamos precisando de homens como Micaías e o apóstolo Paulo nos dias atuais. Roguemos, “pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mt 9:38). Trabalhadores compromissados com a verdade e com o SENHOR.

3 – Não devemos jogar com a verdade:

“E, vindo ele [Micaías] ao rei, este lhe perguntou: Micaías, iremos a Ramote-Gileade à peleja ou deixaremos de ir? Ele lhe respondeu: Sobe e triunfarás, porque o SENHOR a entregará nas mãos do rei” (1 Rs 22:15).

O profeta de Deus, Micaías, praticamente, repetiu ao rei de Israel as mesmas palavras ditas pelos seus profetas (22:6) a respeito do combate para retomar a cidade de Ramote-Gileade, cidade esta, que se situava ao leste do rio Jordão, onde o profeta Elias residia. O rei Acabe fazia um jogo, onde ele envolvia os seus próprios profetas, o bom rei de Judá Josafá, e agora o profeta Micaías – que só foi chamado porque Josafá queria ouvir de um verdadeiro profeta de Deus à confirmação das predições já ditas pelos profetas de Acabe a respeito do combate.

Lembremos como agia um verdadeiro profeta de Deus: “Respondeu Micaías: Tão certo como vive o SENHOR, o que o SENHOR me disser, isso falarei” (1 Rs 22:14).

O profeta Micaías “entrou” no jogo de Acabe. Entrou, mas sabia o que estava fazendo. Ele estava convicto e preparado para o “jogo” que o rei de Israel estava promovendo o qual Deus reprovava (2 Cr 19:2). Micaías veio ao encontro do rei munido da “espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6:17). Ele era o homem de Deus naquele momento; era o instrumento nas mãos do SENHOR para levar a Sua Palavra e a Sua vontade. Micaías estava preparado; por isso entrou no “jogo”. Ele estava com o SENHOR e o SENHOR estava com ele. O profeta preveniu Acabe, mas o rei não lhe deu ouvidos (1 Rs 22:19-28).

Portanto, sejamos como Micaías, preparados “para toda boa obra” purificando dos erros, sendo “utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor” (2 Tm 2:21).

4 – Não devemos brincar com a verdade:

[Rei Acabe] Quantas vezes te conjurarei, que não me fales senão a verdade em nome do Senhor? Então, disse ele [Micaías]: Vi todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o Senhor: Estes não têm dono; torne cada um em paz para a sua casa” (1 Rs 22:16,17).

O rei Acabe brincou com a verdade. Ele abusou da paciência e longanimidade de Deus. Ele recusou dar ouvidos aos profetas do SENHOR; Elias e agora Micaías. Brincando com a verdade, o rei de Israel recusou a Palavra do SENHOR. Recusar a Palavra de Deus é recusar receber vida, e vida “em abundância” (Jo 10:10). Consequentemente, o rei recebeu de Micaías a sentença que ele mesmo buscou: um povo que “não têm pastor” e “não têm dono” (v. 17). Hoje, a mensagem de Deus tem sido pregada em todos os cantos do mundo. Mal e bem pregada. Muitos atrelando ensinos e preceitos humanos, que nada tem a ver com a vontade do SENHOR e dessa forma levando tantos outros para o “barranco” (Mt 15:14); e poucos transmitindo a vontade soberana do SENHOR, assim como Micaías.

Para aquele que prega e ensina, Micaías seja o exemplo: “Tão certo como vive o SENHOR, o que o SENHOR me disser, isso falarei” (1 Rs 22:14). Para aquele que busca fazer a vontade de Deus e quer a “verdade nada mais que a verdade”, diga àqueles que pregam e ensinam: “Conjuro-te que não nos fale nada senão a verdade no nome do Senhor. Diga-nos a verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade!”; mas com um coração diferente de Acabe que brincou, jogou e recusou a verdade.

5 – Não podemos fechar o nosso coração para a verdade:

“Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o SENHOR: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim” (1 Rs 22:22).

O coração de Acabe se abriu para as palavras que ele queria ouvir de seus próprios profetas e se fechou para as palavras proferidas por Deus por intermédio de Seu profeta Micaías (1 Rs 22:6,18). Os dois reis ouviram as mesmas mensagens, tanto dos falsos profetas, quanto de Micaías. Acabe endureceu seu coração para as palavras do Senhor, e deixou-se enganar pelas palavras de seus profetas, mas Josafá não se deixou enganar pelas palavras destes falsos profetas.

O verso 22 mostra uma parte do pronunciamento de Micaías a Acabe, onde ele revelou que o rei estava sendo enganado pelos seus profetas. A verdade é que Deus é “aquele que sonda mentes e corações,” dando “a cada um segundo as vossas obras” (Ap 2:23). E também o “Senhor conhece os que lhe pertencem” (2 Tm 2:19b). Portanto, “aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.” (2 Tm 2:19c).

O cristão deve ficar longe “da injustiça”, ou seja, da perversidade do coração. Acabe tinha um coração perverso e participava de perversidades, como por exemplo a trama de sua esposa Jezabel para tirar a vida de Nabote (1 Rs 21:1-16). Como cristãos, devemos ficar longe de toda e qualquer injustiça, e até mesmo contra os nossos “inimigos”, porque até a eles, Jesus nos mandou amar (Mt 5:43-48).

As reações de Acabe e Josafá em relação ao pronunciamento dos 400 profetas têm a ver com coração. Em Mt 13:18-23, Jesus conta a parábola do semeador, mostrando 4 tipos de solo, onde o semeador planta as suas sementes. Os solos são os corações dos homens; o semeador é Deus e a semente é a palavra do Senhor ou a semente pura do evangelho. Três dos quatro corações representados pelos solos nesta parábola rejeitam a verdade e apenas um aceita, onde a semente cresce e frutifica. Acabe com seu coração duro e perverso aceitou prontamente as palavras proféticas que ele queria ouvir dos falsos profetas, em detrimento da verdade, dita pelo profeta de Deus, Micaías. Em contrapartida, Josafá, com seu coração aberto a verdade, rejeitou a mesma mensagem proferida pelos 400 profetas, desejando ouvir um verdadeiro profeta de Deus. Cada “solo” responderá diferentemente em relação à mesma “semente”. Que sejamos “boa terra”, onde a semente pura do evangelho “frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um” (Mt 13:23).

6 – Não podemos rejeitar a verdade:

“Então, disse o rei de Israel: Tomai Micaías e devolvei-o a Amom, governador da cidade, e a Joás, filho do rei; e direis: Assim diz o rei: Metei este homem na casa do cárcere e angustiai-o, com escassez de pão e de água, até que eu volte em paz” (1 Rs 22:26, 27).

O rei Acabe rejeitou a verdade. Não sabemos todos os motivos, mas o que sabemos é que ele rejeitou a Palavra do Senhor por intermédio do profeta Micaías por causa de seu coração perverso e corrompido pela mentira. Ele não acreditou nas predições do profeta de Deus (1 Rs 22:17-28), onde ele morreria em combate na cidade de Ramote-Gileade. Por isso o rei mandou Micaías embora dizendo “até que eu volte em paz”, ou seja, convicto que ele não morreria na batalha.

Dois contrastes neste episódio:

1º) A rejeição da verdade por um homem que deveria ser o guia de seu povo. O rei de Israel deveria defender a causa deste povo, e a sua causa deveria ser a causa de Deus. Mas sabemos que o povo adorava ao falso deus Baal seguindo a causa de Acabe (a não ser aqueles 7000 que não dobraram seus joelhos conf. 1 Rs 19:18). Ele estava corrompido pela mentira e grandemente influenciado por sua pagã e perversa esposa, Jezabel.

2º) A coragem de um homem defendendo a causa de Deus contra um rei e todo o seu poderio; rei este, que claramente alimentava animosidade a Micaías, por não profetizar a seu “respeito o que é bom, mas somente o que é mau” (1 Rs 22:18). Este profeta tinha que escolher entre agradar ao rei de Israel ou a Deus. Ele optou pela parte mais difícil que é agradar a Deus. Porque agradar a Deus sempre trará duras e difíceis conseqüências a quem optar em ser fiel aos seus desígnios num mundo dominado pela corrupção e a mentira. Muitos profetas, apóstolos e servos de Deus foram torturados e mortos por serem fiéis a Ele; “Homens dos quais o mundo não era digno” (Hb 11:38).

Conclusão:

O rei Acabe recusou dar ouvidos a verdade e as consequências para ele foram trágicas (1 Rs 22:29-40). Que possamos estar dispostos a ouvir, seguir e obedecer à verdade, independentemente do que tenhamos que enfrentar nesta vida. Devemos dizer, viver e estar preparados como o apóstolo Paulo: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1:21).