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A multiplicação de pães e peixes (Marcos 6:31-46)


A preocupação de Jesus em satisfazer as necessidades do povo

“E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham. Então, foram sós no barco para um lugar solitário. Muitos, porém, os viram partir e, reconhecendo-os, correram para lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram antes deles. Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas” (31-34).

Jesus encontra dificuldades até mesmo para comer e descansar devido à grande aglomeração de pessoas que seguiam seus passos. A solução que Ele encontra para “fugir” da multidão é entrar dentro de um barco e ter momentos de descanso, mas ao chegar à outra margem encontra a mesma multidão reforçada agora pela vizinhança e eles o esperam. Jesus deveria estar imensamente cansado, mas mesmo neste estado, Ele encontrava forças para compartilhar seu amor. Ele olha para a multidão e vê um quadro que o deixa penalizado: “eles são como ovelhas que não tem pastor”. Ele podia simplesmente ignorá-los – Jesus tinha uma boa justificativa: “estou exausto”. Para fazer o bem não tem hora e nem lugar.

Nosso Senhor não deixava que um mero detalhe o atrapalhasse de servir ao Seu pai: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10b). Ao invés de deixar o tempo passar não fazendo nada, Jesus aproveita esta oportunidade e não a perde. O que Ele fez então: ensinou-lhes muitas coisas. Ele ensina a multidão os preceitos de seu Pai. “… nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou.” (João 8:28bc). Foi para fazer a vontade de Deus, que Jesus veio ao mundo. “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou” (João 6:38). E qual é a vontade de Deus? O próprio Jesus responde: “… a vontade de quem me enviou é esta: que eu não perca nenhum de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:39). A vontade de Deus é que ninguém se perca, mas obtenha a vida eterna em Cristo Jesus (João 3:16,17). O que estamos esperando pra fazer a vontade daquele que nos chamou?


A incompreensão humana diante dos fatos


“Em declinando a tarde, vieram os discípulos a Jesus e lhe disseram: É deserto este lugar, e já avançada a hora; despede-os para que, passando pelos campos ao redor e pelas aldeias, comprem para si o que comer” (35,36).

Percebemos aqui a “preocupação” de seus discípulos com o povo que ali se encontrava. Parecem realmente preocupados, não?! “Já é tarde, despede deles para que possam comprar comida e irem para suas casas.” Muito mais fácil fazer isso do que providenciar uma maneira de acolher esta multidão faminta e cansada. O que constatamos aqui na verdade é o que o ser humano de forma geral quer fazer com seus semelhantes, pois sempre temos desculpas como: “o que daremos de comer? Como posso ajudar se estou apertado com as finanças! Agora não vai ser possível, estou muito ocupado!” Com o que será que realmente estamos ocupados? Nossos afazeres? Nossas coisas? Nossos projetos pessoais? Quando vamos compreender, que Deus nos chamou para trabalhar para Ele? Há uma multidão aí fora sem esperança, com medo, perdida como ovelhas sem pastor, faminta – espiritualmente falando -, e porque não dizer, fisicamente; pois quantas pessoas encontramos pedindo algo pra comer e parece nunca termos tempo para servi-las. Havia algo acontecendo ali, e simplesmente, os discípulos do Mestre queriam resolver a sua maneira e não a maneira dEle. Até lhe deram uma sugestão do que fazer: “despede-os”.

Quantas vezes queremos resolver as coisas a nossa maneira e não a maneira de Deus? Quantas vezes tomamos à dianteira e não permitimos que o Senhor nos guie a solução correta? O que acontece? Fácil! Tropeçamos, caímos e depois reclamamos. Não vamos ensinar a Deus como nos moldar; deixemos o Senhor do universo moldar-nos a sua maneira (Jeremias 18:6).


Não importa a quantidade, devemos repartir

“Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer? E ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam: Cinco pães e dois peixes. Então, Jesus lhes ordenou que todos se assentassem, em grupos, sobre a relva verde. E o fizeram, repartindo-se em grupos de cem em cem e de cinqüenta em cinqüenta. Tomando ele os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou; e, partindo os pães, deu-os aos discípulos para que os distribuíssem; e por todos repartiu também os dois peixes. Todos comeram e se fartaram; e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe. Os que comeram dos pães eram cinco mil homens” (37-44).

Quanto valia um Denário? Um Denário, que era uma das moedas romanas muito usadas na época de Cristo, valia em torno de um dia de trabalho conforme a parábola dos trabalhadores da vinha (veja Mateus 20:1-16). Em Apocalipse 6:6 mostra que um Denário valia uma medida de trigo e três medidas de cevada, o que indicava preços exorbitantes em um período de fome. Como já comprovamos, um Denário valia o salário diário de um trabalhador, então 200 Denários era uma quantia relativamente alta, pois um trabalhador comum precisaria trabalhar mais ou menos 8 meses para ganhar esta quantia.

Vamos supor que um trabalhador ganhe a soma de R$ 50,00 por dia atualmente, então fazendo um paralelo em relação aos 200 denários em questão, seriam para esse trabalhador R$ 10.000,00. Talvez por isso a indagação dos apóstolos: “Iremos comprar duzentos denários de pão?”.  Onde eles arranjariam tanto dinheiro de uma hora para outra? Mas Jesus não falou em comprar algo e muito menos em dinheiro, apenas disse para alimentá-los.

Como se Jesus não soubesse, Ele pergunta quantos pães eles tinham e eles respondem: “Cinco pães e dois peixes”. O que se segue então deve ter surpreendido aos discípulos, pois Jesus, primeiramente não questiona: “só cinco pães e dois peixes?” Depois manda organizar a multidão em grupos, e com discípulos talvez se perguntando: “o que Ele fará com cinco pães e dois peixes?” Jesus olha para os céus e abençoa o alimento escasso e dá aos discípulos para repartir com a multidão. Como? Como alguns pães e peixes podem alimentar mais de cinco mil pessoas? Os discípulos atônitos e talvez ainda incrédulos distribuem o que para eles seria impossível, mas um milagre acontece: todos se fartam e ainda sobram doze cestos cheios. Coisas de Deus!

Jesus ensina grandes lições aqui: 1º – do pouco se faz muito. 2º – Deus opera o impossível para os homens. 3º – Precisamos crer nas providências divinas. 4º – não importa o que temos, precisamos repartir (Atos 3:6).


As pessoas são mais importantes do que as coisas

“Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?” (37).

Enquanto os homens estão preocupados com os gastos que essa empreitada iria custar, a única coisa que interessa Jesus é saciar a fome dessa gente: “Daí-lhes de comer”. O questionamento aqui não é como irão fazer para satisfazer o desejo de Jesus, mas o dinheiro que teriam que gastar para satisfazê-los: Duzentos denários. “Não, essa multidão não merece isso, é melhor mandá-los embora para que assim possam eles mesmos procurar o que comer”. A diferença aqui, está em como Deus e os homens reagem a uma situação dessas. Para os homens as coisas são mais importantes; para Deus são as pessoas. Para os homens, haveria um gasto excessivo e sem razão; para Jesus, seria o melhor investimento. Em que estamos investindo?

Devemos dar, sem esperar nada em troca

“Tomando ele os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou; e, partindo os pães, deu-os aos discípulos para que os distribuíssem; e por todos repartiu também os dois peixes” (41).

Com cinco pães e dois peixes, Jesus alimentou uma multidão. O pouco se tornou muito e até sobrou. Jesus abençoou e repartiu o pouco que tinha. Ele não se preocupou se ia comer ou não, se sobraria ou não para Ele, e se alguém agradeceria ou não. Ele apenas queria repartir, compartilhar e saciar a fome destes peregrinos.

Hoje, muitos ensinam que é dando que se recebe. Quanto mais dinheiro você dar, mais você receberá de Deus. Quanto mais você contribuir, mais você prosperará. Com isso se esquecem de pregar o evangelho, que inclui o arrependimento de pecados, a obediência aos preceitos e mandamentos divinos, o perdão de Deus e a salvação em Cristo Jesus. Em conseqüência a ênfase é dada somente ao dinheiro, aos bens e a prosperidade material. Qual será a razão disso tudo? Um meio de atrair mais e mais seguidores?

Jesus muitas vezes proibiu a divulgação dos seus feitos miraculosos, pois não queria que as pessoas o buscassem por aquilo que Ele poderia dar e oferecer, mas por amor e obediência a Ele e aos seus mandamentos. Muitos pregam o que os homens querem ouvir e não o que Deus tem a dizer. São poucos os que querem ouvir Jesus; são poucos os que suportam a verdade da Palavra de Deus para segui-lo fielmente (João 6:60,66). Este, talvez seja um dos motivos pelo qual a igreja que Jesus edificou tem sempre um grupo pequeno de seguidores, “porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mateus 7:14). Jesus com seu exemplo nos ensinou que devemos dar sem esperar algo em troca. Esse é o verdadeiro amor. Quem dá alguma coisa esperando retorno, ainda não entendeu o que é o amor cristão; o amor que Cristo nos ensinou.

Aplicação

1 – A preocupação de Jesus em satisfazer as necessidades do povo (31-34): Jesus veio ao mundo com um propósito bem definido por seu Pai. Ele não hesitou em cumprir sua vontade, nem mesmo quando estava fronte ao perigo e sofrimento. “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (João 9:4). Hoje a igreja tem o papel de continuar as obras que Jesus começou e Ele mesmo opera naqueles que se colocam a sua disposição. Satisfazer as necessidades do povo, como nesta passagem é uma de suas vontades. Quais as necessidades do povo hoje? São muitas e a principal delas é ouvir as boas novas do evangelho.

2 – A incompreensão humana diante dos fatos (35,36): Os discípulos queriam “ensinar” a Jesus o que fazer com aquela multidão. Essa ousada atitude só serviu pra mostrar o despreparo deles para com a obra que Jesus veio fazer neste mundo: “buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:10). Eles ainda estavam aprendendo e teriam muito a aprender. Há uma grande obra nos esperando e não podemos ficar indiferentes a ela. Jesus enquanto esteve no mundo se aproximou cada vez mais daqueles a quem veio buscar e salvar: o perdido e pecador. Não vamos ensinar a Deus como fazer o trabalho; vamos pelo contrário realizar a obra pelo qual Ele nos chamou da forma que Ele quer.

3 – Não importa a quantidade, devemos repartir (37-44): Mesmo com muito ou o suficiente reclamamos da vida. O que será então daqueles que nada tem ou pouco podem? Nesta grande lição de Jesus podemos tirar algo para as nossas vidas. Tendo condições ou não precisamos aprender a repartir. Temos dois exemplos que se debatem na Bíblia: Primeiro, o exemplo dos Macedônios – irmãos extremamente pobres -, suplicaram ao apóstolo Paulo para participarem da assistência aos santos em Jerusalém (2 Coríntios 8 e 9). Segundo, o exemplo do jovem rico que recusou a sugestão de Jesus para que ele vendesse seus bens e distribuísse aos pobres, para assim segui-lo (Mateus 19:16-22). O primeiro exemplo é positivo e encorajador, o segundo é negativo e reprovável.

4 – As pessoas são mais importantes do que as coisas (37): É para as pessoas que Jesus deu a sua vida e é por elas que precisamos continuar firmes neste caminho, dando testemunho e pregando a verdade. Quando algo acontecer, ao invés de ficarmos preocupados com as coisas que perdemos ou podemos perder, nos preocupemos com o que tem valor para Deus: as pessoas e as suas almas. “Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mateus 10:31).

5 – Devemos dar, sem esperar nada em troca (41): O maior exemplo sempre será o de Jesus; Ele deu a sua vida em nosso favor. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). Muitos não seguiram Jesus naquela época, o que não é diferente de hoje, ou seja, o que Ele fez, para muitos não tem valor algum. Muitos o seguem atualmente, mas de forma errada, não fazendo ou obedecendo a sua vontade.

O amor não olha o resultado da ação, sabendo que amar é agir para o bem dos outros, não olhando se eles merecem ou não. Merecedores não somos, mas Jesus nos amou, quando se entregou por nós. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3:16). Essa é a multiplicação do amor!

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